Retalhos, de Craig Thompson
Eu li “Retalhos”.
Nossa, que obra de arte.
Para quem não sabe, “Retalhos” (”Blanket”) é uma das graphic novels mais premiadas do mundo (venceu apenas três ou quatro Harvey, dois Eisner, dois Ignatz, um prêmio da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos e sabe-se lá mais o que…), e o tipo de obra que merece ganhar até os prêmios que ainda serão criados para uma obra-prima como esta.
Não à toa, foi listada pela Times como uma das dez melhores graphic novels de todos os tempos.
A história é autobiográfica, e conta a infância do próprio desenhista Craig Thompson, e como o crescimento em uma família religiosamente fanática marcou seu amadurecimento juvenil.
É um romance de amadurecimento; uma espécie de “Eduardo & Mônica” real, e narrado com momentos de genialidade através das sombras e idéias que o autor vai utilizando para expressar os pensamentos e sentimentos dele próprio em relação à vida que vai aprendendo a entender.
É o tipo de material que devia ser usado por professores em salas de aula para formar leitores. O tipo de história que deveria ser discutida com turmas de adolescentes, pois fala de sentimentos que todos nós temos e descobrimos dentro de nós ao longo de nosso crescimento pessoal.
Ler essa graphic novel é um tipo de experiência que fica na alma; a narrativa é tão sincera que chega a doer dentro da gente. Ela aperta o coração, e, assim como um bom filme fica na memória após o sair da sala, essa história fica na nossa mente mesmo após o fechar do livro.
E interessante o termo que acabei de utilizar: “livro”.
O fato é que “Retalhos” é uma das grandes graphic novels que lideram a idéia de que quadrinhos podem se igualar à literatura. Pegando carona nesse conceito, a Companhia das Letras não o lançou no formato clássico; mas sim no tamanho e formato de um livro que poderia estar assinado por qualquer grande romancista.
Acho interessante discussões desse tipo; Neil Gaiman enfureceu meio mundo literário ao ganhar o World Fantasy Award, um prêmio literário, de história curta com a adaptação de “Sonhos de Uma Noite de Verão” em “Sandman”. O furor foi tanto que proibiram para sempre uma HQ de ganhar um prêmio daquele tipo de novo.
Entretanto, ele lavou a alma da outra metade desse mesmo mundo.
(Neil Gaiman ganhando o Hugo…)
Porque fato é que quadrinhos – mesmo as graphic novels – não são literatura. Do contrário, roteiros de games terão de começar a concorrer ao Oscar; o filme “Matrix” será considerado uma variação de um anime cyberpunk em live-action, e por aí vai. O que acontece nessa arte, como em todas as outras, é que há flertes.
Mas igualá-lo naquele momento à literatura foi uma forma de separar o “gibi” (que tem todo um contexto e teor tipicamente mais de juvenil a infantil) do “romance gráfico” (que tem toda uma linguagem mais adulta, e um texto de maduro a poético).
“Sandman” e “Retalhos” flertam o tempo inteiro com a literatura, mas flertam também com a música; a pintura; a poesia; o cinema.
A graphic novel mais celebrada de todos os tempos, “Watchmen”, faz coisas em sua narrativa que só poderiam ser feitas naquele meio de arte; tanto que o filme, por mais esforço e paixão que um diretor jovem como Zack Snyder tenha dedicado, não chega aos pés da obra original.
Porque “Watchmen” nasceu para ser uma graphic novel, não um filme.
“Retalhos” também seria um filme de mediano para chato. Mas a história como uma narrativa em quadros é uma experiência inesquecível.
Ok, então se cinema é cinema; literatura é literatura; música é música; pintura é pintura… então quadrinhos são o quê?
Fácil: quadrinhos são quadrinhos. Ponto. E com sentido, linguagem e significado como arte próprios.
E se você ainda não consegue compreender o quanto ele se iguala em poder como arte a qualquer outra, bom, você tem uma grande chance.
Leia “Retalhos”.
Depois, a gente volta a conversar.
Dolan’s Cadillac (e o pior ator do mundo…)
Acabei de assistir a Dolan’s Cadillac, mais uma das dezenas de adaptações ruins de uma história de Stephen King.
Como tudo o que se espera nessas adaptações, é óbvio que o roteiro é fraco; a construção de personagens é fraca; a direção até tenta ser criativa, mas acaba presa ao lugar comum, e por aí vai. Definitivamente, até aí não há nada que não se espere de uma “adaptação B” (filmes com baixo orçamento), baseada em alguma obra do velho mestre de horror.
O que é realmente faz desse filme especial a ponto de eu vir aqui compartilhar minhas impressões, porém, é a qualidade mais-do-que-rigorosamente-seletiva na escolha de elenco.
Cada um; mas cada ator ruim MESMO do filme foi selecionado a dedo, e acredite, isso também é uma arte.
Porque selecionar alguns atores ruins em alguns papéis – ou até mesmo na maioria – de um filme profissional é fácil. Difícil é selecionar atores ruins para todos os papéis de um filme profissional!
E o rapaz da seleção de elenco no caso conseguiu!
O nível de atuação dos champs (como diria o rapaz do engraçadíssimo blog GTO) é tão seletivo, que não entrariam nem na “Malhação”.
E, no meio desse pessoal, está Christian Slater como o vilão Dolan!
Resultado: é óbvio que ele rouba o filme; é até covardia com os pobres coitados ao redor, afinal, é o único ator profissional no set e que faz idéia do que está fazendo.
(Definitivamente, esse cara devia estar precisando muito de dinheiro…)
Para piorar a situação, o protagonista é vivido pelo ator Wes Bentley, que a torna esse post tão especial. Porque a partir de hoje, ao menos para mim, o cigano Ígor é uma verdadeira página virada!
O pior ator que eu já vi na minha vida, até este momento, sem sombra de dúvida, é Wes Bentley!
(Cigano Igor? Que nada; você precisa se atualizar…)
A atuação de Bentley em Dolan’s Cadillac não mereceria nem mesmo uma premiação no Troféu Framboesa de Ouro (o “oscar” às avessas, que premia os piores do ano nos EUA); ele mereceria coroar o nome da estátua!
Da mesma forma como os melhores do ano recebem um “oscar”, os piores do ano, a partir desse filme, deveriam receber um “bentley”.
Logo, se puder assistam. E depois me escrevam dizendo se concordam comigo, ou se possuem um ator que em seus corações que superem Bentley…
Se não vale pelo primor cinematográfico, ao menos vale para não levar a sério o que quer que seja que Wes Bentley esteja tentando fazer ali.
Ricardo Macchi tremei…
ps: Se você nasceu a partir da década de 90, e não tinha ainda consciência para se lembrar de novelas de 1995, eu vou perdoar se você não entender a referência.
Book Trailer – Território V
Book Trailer do livro “Território V“, editado por Israel Teles, um dos autores presentes na antologia.
A excelente trilha musical foi composta pelo rapaz também.
Enjoy.
Dias Contados
A editora Andross, a mesma que me convidou para ser o que eles chamam de “convidado de honra” no livro de contos medievais “Anno Domini” – antologia esta já esgotada e em que meu conto em Nova Ether publicado está disponível aqui – me pediu para divulgar o evento abaixo.
Como os organizadores são os escritores Ricardo Delfin e Danny Marks, e ainda com boas-vindas da escritora Helena Gomes, isso são apenas mais motivos para que eu diga: “por que não?”.
Danny Mark é um escritor que está sempre se mexendo em eventos e antologias literárias. E Ricardo Delfin, bom, se você não tiver preconceito com literatura nacional e ainda não ouviu falar dele, com certeza um dia irá.
Delfin é um apaixonado por aperfeiçoamento. Qualquer palestra ou workshop ou evento literário que eu seja convidado, eu sei que o encontrarei por lá (inclusive na noite de autógrafos do próximo dia 13 de agosto). E quaisquer outras atividades em que eu não for, eu sei que ele igualmente vai estar.
E o rapaz escreve bem pacas. Mais uma vez: Anote esse nome por aí.
E quanto a Helena Gomes… bom… eu já falei dela o suficiente desde que esse blog surgiu (faça uma busca para comprovar).
O evento está abaixo.
Sonhem sempre.
Escritores descrevem o fim do mundo no livro Dias Contados
Lançamento em São Paulo, dia 1o de agosto, terá mesa-redonda sobre o final dos tempos e leitura dramática de contos do livro.
Nos séculos que se passaram, eventos naturais como eclipses, erupções vulcânicas e maremotos foram encarados como sinais do fim dos tempos. Houve pânico e suicídios na passagem do ano 999 para o 1000. Mas a aurora surgiu, e então, tempos depois, uma suposta profecia, atribuída a Michel de Nostradamus, sobressaltou novamente os crédulos: De 1000 passarás, mas em 2000 não chegarás…
Entretanto o Sol nasceu no primeiro dia do ano que não chegaria.
Agora o mundo volta seus olhos para 2012, o último ano do calendário maia. Segundo alguns estudiosos, quando esse ano chegar, o planeta sofrerá transformações até então desconhecidas e uma nova era surgirá. Os alarmistas já se preparam literalmente para o fim do mundo.
Céticos e crédulos nessas transformações ganham, a partir de primeiro de agosto, mais argumentos para aguçar suas expectativas. Chega às livrarias Dias Contados – Contos sobre o fim do mundo (Andross Editora, 256 páginas, R$ 29).
A obra reúne 50 contos de novos autores, selecionados criteriosamente, e também de uma escritora de histórias fantásticas, exclusivamente convidada para encabeçar a obra e dar boas-vindas aos estreantes: Helena Gomes, autora da saga A Caverna de Cristais (Idea Editora).
A organização é dos escritores Ricardo Delfin e Danny Marks, que analisaram pouco mais de 300 contos durante oito meses para chegar aos 50 selecionados. Há escritores de vários estados brasileiros e também um da Argentina.
Mesa-redonda e leitura dramática
Para enriquecer as discussões acerca do tema, durante o lançamento, a Andross Editora promoverá uma mesa-redonda com os organizadores do livro e o jornalista e escritor Sérgio Pereira Couto, especialista em esoterismo e em História antiga e medieval. A mediação será do ativista cultural Silvio Alexandre.
Também está programada para o evento a leitura dramática de alguns contos do livro pela contadora de histórias Cristiane Gimenes, da cia. Em Cena Ser.
Serviço
DIAS CONTADOS – CONTOS SOBRE O FIM DO MUNDO
Vários autores – Organização de Ricardo Delfin e Danny Marks
DATA: 01 de agosto de 2009, das 15 às 19 horas
LOCAL: Biblioteca Viriato Correa de Literatura Fantástica – R. Sena Madureira, 298, Vl. Mariana, São Paulo, SP
PROGRAMAÇÃO: 15h00min : Mesa-redonda Os Sinais do Fim do Mundo
16h00min : Leitura dramática de contos do livro Dias Contados
17h00min : Sessão de autógrafos
Sobre a Andross Editora
Com cinco anos de mercado e 37 títulos publicados, a Andross Editora nasceu no campus da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, para abrir espaço no mercado aos alunos que não tinham condições de publicar seus primeiros textos. Iniciou as atividades com obras acadêmicas, mas cresceu e se manteve no mercado graças a um modelo de negócio diferenciado: a publicação de antologias. Até hoje, a editora já lançou 21 livros deste tipo e está com inscrições abertas para mais alguns até o final do ano.
Lipoaspiração, por Herbert Vianna
Deuses também morrem…
E ele se foi.
Em outro post, na época da morte de Heath Ledger, havia comentado sobre como existe uma certa melancolia em ver partir tão cedo jovens extraordinariamente talentosos.
Em casos como dessas estrelas jovens, existe a melancolia, mas compreende-se o fato como realidade.
Em casos como o de Michael, não.
A realidade simplesmente não parece material. Não se explica a psique de quem viu o mito que uma supernova como Michael Jackson fora, que ela simplesmente se apagou.
Afinal, uma energia não pode ser destruída; apenas transformada.
E essa estrela se transformava em tantas faces, mas tantas faces, que era difícil acreditar que se tratava de um ser humano comum.
A atual geração conheceu o Michael dos escândalos e da excessiva e perturbadora perseguição da imprensa, mas da minha geração para as anteriores, o que as pessoas se lembram era do maior artista pop que já pisou nesse planeta.
Eu não testemunhei a revolução causada pelos Beetles, e ainda que tivesse visto, tenho certeza que colocaria Michael Jackson ainda acima do quarteto como o maior artista pop da história mundial.
Michael não revolucionou apenas o ramo musicial; ele revolucionou o conceito de indústria de entretenimento como um todo.
Seu álbum “Thriller” elevou a mídia a um novo patamar; suas coreografias inovadoras; sua forma própria de ser; seu marketing social; as criações digitais para dar vida a um universo fantástico próprio, digno de um autor de literatura.
Nunca acreditei em uma única acusação de pedofilia contra ele; e sempre estive pouco me lixando para a opinião da imprensa sensacionalista sobre sua carreira ou sua pessoa (ou como cantam os fãs: “fuck the impress, Michael you’re the best“). Existem forças judiciárias e espirituais para julgar inocentes e culpados neste planeta e além dele. E se o nome desse artista para uma pessoa remeter apenas a julgamentos próprios sobre fatos que desconhece, então é com essa pessoa que existem problemas.
O fato é que Michael Jackson simplesmente não era deste planeta; e imagino o quão difícil deva ter sido para ele ter enfrentado a missão de viver por aqui.
Músicas e videoclipes como “Thriller”, “Remember the time”, “Bad”, “Black or White” e, principalmente, “Moonwalker, me deram um fascínio pelo realismo mágico, que me levou a traçar meu caminho atual como escritor.
Eu aprendi a dançar “Billie Jean”, e fui mais uma das milhões de crianças ao redor do mundo que arrumou um chapéu para aprender as coreografias de “Smooth Criminal”.
E se bobear, ainda lembro os passos.
Michael nesse momento deve estar se encontrando com Lenon, e os dois provavelmente irão conversar sobre como fora difícil vir a um planeta tão atrasado, e tentar elevar um pouco que fosse a energia vibratória de tal esfera.
Provavelmente eles irão lamentar determinadas atitudes da raça humana em relação a eles, e, principalmente, em relação a si própria.
Entretanto, ainda assim eu acredito que quando olharem para baixo, e quando observarem os milhões de adultos que hoje ainda se lembram e agradecem por suas luzes em fases difíceis de serem esquecidas na mente, e mais ainda no coração, eles saberão que todo sacrifício valeu à pena.
A verdade é que hoje Nova Ether ganhou mais uma estrela.
E essa é uma estrela tão forte, que sua luz se traduz em um holofote capaz de cegar uma pessoa se ela não souber observá-la como deveria.
Brilhe em paz, Michael.
Circo de Horrores (Super)Pop
Aproveitando que estamos na época de falar de “Território V”, alguém, por algum acaso, assistiu ao Circo de Horrores que Kizzy Ysatis teve de se submeter ontem no… bom… Superpop, da Luciana Gimenez?
O tema era sobre vampiros e, obviamente, ninguém iria querer ouvir falar de literatura; nem os convidados no palco nem os tele-espectadores fora dele.
De novo: era o… bom… Superpop.
Sinceramente, acreditava que esse programa nem existia mais, mas, pelo visto, existem programas que possuem corpo fechado.
Pobre amigo Kizzy!
Esse tipo de programa costuma preparar ciladas para seus convidados, assim como já fora feito anteriormente com André Vianco no extinto (hum, nem todos têm corpo fechado) Charme , da Adriane Galisteu, em que a apresentadora o apresentou como “vampirólogo”, ainda que nos bastidores ele tivesse dito ao produtor: “cara, eu não vampirólogo, eu sou escritor”.
Com Kizzy foi pior porque Vianco, ao menos, se submeteu apenas a um bloco de programa.
Kizzy teve de aguentar um programa inteiro!
Claramente a produção queria que Kizzy se fizesse passar por “vampiro de verdade”, afirmasse que tinha presas, convocava demônios nas praias de Santos ao lado de macumbas e bebia sangue de cabeças cortadas pelas ruas de São Paulo, enquanto no palco convidados sérios (como a cineasta Liz Vamp, filha de José Mojica) tentavam manter alguma sanidade em meio a outros convidados memoráveis apenas pelas besteiras levantadas como o velho tema: “o RPG invoca o demônio”.
Temas batidos que não dizem mais nada e têm a única e exclusiva função de tentar levantar a mesma polêmica que o vazio se excita, e o valoroso condena.
(Liz Vamp e Kizzy Ysatis! Ontem eles provaram que ao menos suas paciências são imortais…)
Kizzy deve ter deixado a produção louca quando admitiu que não tinha presas nem fazia nenhuma barbaridade do tipo, e que gostava de vinho em vez de sangue.
Um guerreiro esse escritor por suportar até o fim.
Não cheguei a ver sua entrada no palco porque minha resistência chegou à linha de chegada, depois do limite em que se é possível assistir a circos desse tipo. A mente vai ficando enfraquecida, e a gente tem de correr para ler alguma coisa apenas para relembrar como é a vida inteligente.
Como prega o termo “criado” pela apresentadora, arrumar uma forma de sair de um cenário de “obscuridão”.
Admito aqui que eu poderia já ter ido a esse programa anteriormente, mas passei a oportunidade adiante.
Até sou um artista marcial treinado desde a infância, mas existem coisas que, definitivamente, minha resistência não aguentaria até o fim…
Dennis Lehane
Dennis Lehane é o melhor escritor de thrillers policiais contemporâneos.
Eu fui conhecê-lo pessoalmente na FLIP de 2006, onde ele lá compareceu para uma mesa de debates comandada por Marçal Aquino, e que contava ainda com o romancista e roteirista mexicano Guilhermo Arriagua, autor dos filmes “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.
O primeiro livro de Lehane que li foi “Gone, Baby, Gone”.
E eu não tinha como saber na época, mas já estava começando por sua obra-prima.
Já li esse livro duas vezes. E um dia sei que irei ler uma terceira.
É um fato: tudo na escrita de Lehane funciona. Os diálogos afiados, as metáforas irritantemente competentes, a ambientação de uma Boston particular que só quem viveu e cresceu no lugar poderia descrever,e, principalmente, os conflitos psicológicos que afetam seus personagens únicos.
Esse livro, ano passado, se tornou um filme nas mãos de… pasmem… Ben Afleck. E que ainda colocou seu irmão Casey Afleck no papel principal (não, não é só na televisão brasileira que existe neopotismo).
O próprio Lehane quando anunciou isso durante a Flip, disse, rapidamente e em bom humor, assim que anunciou o nome do diretor: “O filme será dirigido por Ben Afleck! Ei, calma, calma!”.
No Brasil, o filme saiu com o péssimo título: “Medo da Verdade”.
Entretanto, por incrível que pareça, o filme ficou bom!
Ben Afleck se mostrou um melhor diretor do que ator; o que também não era lá algo tão difícil de se mostrar.
Contudo, Casey Afleck – por melhor ator que seja – não tem nada a ver com o personagem Patrick de Lehane.
O próprio roteiro tem de fazer os personagens dizerem coisas como: “eu pensei que você fosse mais velho”, já que o visual “acabei de sair da adolescência” de Casey contrasta violentamente com o do experiente detetive particular.
Mas, como sempre, se você puder ter acesso ao livro, não veja o filme primeiro. Eu imploro isso a você.
Se você é fã de thillers e histórias policiais, leia esse livro.
Se você é fã de histórias, leia esse livro.
Se você não gosta de ler, leia esse livro.
Lehane tem a mania de fazer muito com pouco. Em frases curtas, utilizando metáforas explosivas, ele fala muito sobre a ambientação e o psicológico de cada personagem que aparece. A impressão que se tem é que seu texto foi lapidado para conter o mínimo possível o tempo inteiro, e dar seu máximo nessa encurtação.
O clímax a que Lehane leva os personagens principais de “Gone, Baby, Gone”envolve um dilema entre moral e ética tão poderoso, que até hoje tenho dificuldades de decidir qual personagem agiu corretamente, e qual agiu erradamente.
Porque, afinal, nenhum dos dois estaria errado. E há de se ter um controle narrativo esplêndido para se atingir um clímax em que um leitor se perturbe com tal decisão por tanto tempo.
De todas as suas obras, porém, a mais conhecida é “Sobre Meninos e Lobos” (Mystic River; 2003), devido ao explêndido filme de Clint Eastwood, realizado com um elenco dos sonhos.
A dica é a mesma: se puder, leia o livro. Mas se só puder ver o filme, a menos nesse caso ele é tão magnífico quanto.
E o próximo filme que será adaptado ao cinema de suas obras é “Shutter Island”, que fala sobre dois federais investigando um desaparecimento em um hospital psiquiátrico estranho, localizado em uma ilha; a tal Shutter Island.
O filme será dirigido pelo “desconhecido” Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio no papel principal.
Abaixo, segue o trailer com aquelas imagens que só Scorcese consegue em seus filmes policiais. Assistam em HD e com a tela inteira, por favor.
Fica a dica. Seja em imagens gravadas em película, seja em tinta impressa em páginas, acredite em mim, Dennis Lehane vale cada centavo…
Orgulho Nerd
Hoje é o Dia Mundial do Orgulho Nerd!
E não adianta quererem criticar; os nerds hoje comandam o mundo.
Ninguém – mesmo o troglodita mais bombado da sua academia – não vive hoje sem celular, iphone, msn, orkut, facebook, youtube, twitter, blue-ray, blog, playstation, e sabe-se lá mais o que vier a tomar vida por causa de um geek (o nerd viciado em tecnologia).
O cinema se rendeu às adaptações de quadrinhos. Os acionistas tiveram de admitir que a indústria de games é a indústria de entretenimentos mais lucrativa do mundo. A presença de Neil Gaiman já causa rebuliços maiores do que determinados rock stars. Mangás de Naruto entraram na lista dos livros mais vendidos do New York Times!
Logo, aquele sujeito que apanhava na escola, sendo humilhado todos os dias pelos valentões porque usava bermuda na altura do umbigo e era buscado na escola pela avó, hoje são chefes de websites e corporações de milhões de dólares! E na maioria das vezes, antes dos 30!
(jogador de futebol? Não, a boa agora é ser geek…)
Até mesmo a fantasia, que antes era algo renegado a grupos nerds do meio rpgístico (ouvi falar de “Senhor dos Anéis” na sexta série, quando era um pirralho pré-adolescente e o livro era cult; em vez de pop), hoje é o estilo literário mais popular do mundo. Harry Potter chegou; Crepúsculo hoje comanda; e os eventos de Anime e seus Cosplayers são mais requisitados do que a presença de políticos em CPIs.
O homem mais rico do mundo (não por acaso) é o maior geek do mundo.
(nesse exato momento, para ler isso aqui você está usando alguma coisa que esse cara descobriu…)
As mulheres mais quentes de Hollywood estão admitindo serem fãs de quadrinhos, e pedindo para interpretarem as heroínas.
(é, ela não apenas estrelou Transformers; ela é nerd assumida…)
E o presidente mais poderoso do mundo não apenas é um nerd assumido, como foi salvo pelo Homem-Aranha…
… e estrelou uma edição própria como um poderoso bárbaro.
(é, é ele mesmo…)
O que eu posso concluir com isso? É maravilhoso viver para ver essa revolução.
Eu nunca tive o esteriótipo físico nerd na adolescência; aos 12 anos já era instrutor de artes marciais, aos 16 era artilheiro do meu time de futebol, aos 17 erguia 60 quilos em supino de academia, e não tenho tanta dificuldades em trocar com uma mulher quanto o esteriótipo nerd impõe.
(é, exemplo clássico de estereótipo nerd…)
Mas meu coração não podia dizer o mesmo.
Já troquei muitas programas, mais ou menos importantes de acordos com a idade, por madrugadas de Final Fantasy, histórias de Robert E. Howard, HQs dos Novos Titãs, reprises gravadas em VHS de Cavaleiros do Zodíaco e Batman – The Animated Serie, campanhas de Dungeons & Dragons, batalhas épicas de G.I. Joes, e escrita de contos imprecisos e roteiros com falhas de estrutura, mas diálogos espertos, de fanfictions.
E curioso que, hoje, a impressão que eu tenho é que minha vida não mudou tanto. Apenas as brincadeiras amadureceram um pouco, e passei a ser pago para jogá-las e cobrado por resultados.
Segue abaixo os direitos e deveres do Manifesto Mundial desse dia, com comentários extras by myself.
Enjoy.
- Direitos:
- O direito de ser ainda mais nerd.É óbvio; ou do contrário de onde virá a evolução tecnólógica dessa planeta? Da casa do BBB?
- O direito de não sair de casa. As garotas podem vir até seu cafofo conhecer seu douby surround…
- O direito de não gostar de futebol ou de qualquer outro esporte.Ou de jogá-los no Supernes ou Playstation…
- O direito de se associar a outros nerds.Pois para isso um nerd árabe criou o Orkut…
- O direito de ter poucos (ou nenhum) amigo. Já que o Second Life é virtual…
- O direito de ter tantos amigos nerds quanto quiser.Pois ninguém comanda o mundo sozinho, e futura fusões de empresas são essenciais para o crescimento dos negócios…
- O direito de não ter que estar “no estilo”.O que por si só já se traduz em um estilo…
- O direito ao sobrepeso (ou subpeso) e de ter problemas de vista.Pois não existe nerd feio; existe nerd pobre…
- O direito de expressar sua nerdice.E ganhar dinheiro com ela…
- O direito de dominar o mundo.Exercido muito bem.
- Deveres
- Ser nerd, não importa o quê. Afinal, a vida precisa ter graça…
- Tentar ser mais nerd do que qualquer um. Pois a concorrência hoje já está absurda sem as cotas de reserva de vagas…
- Se há uma discussão sobre um assunto nerd, você tem que dar sua opinião. Ou isso vai se acumular no seu corpo e gerar câncer…
- Guardar todo e qualquer objeto nerd que você tenha. No futuro eles irão valer milhares de dólares no e-bay...
- Fazer todo o possível para exibir seus objetos nerds como se fosse um “museu da nerdice”. Pois a arte não foi feita para ser guardada…
- Não ser um nerd genérico. Você tem que ser especialista em algo. Já que é com isso que irá ganhar dinheiro.
- Assistir a qualquer filme nerd na noite de estréia e comprar qualquer livro nerd antes de todo mundo. Pois você tem de ser o primeiro a escrever no seu blog sobre a qualidade da adaptação!
- Esperar na fila em toda noite de estréia. Se puder ir fantasiado, ou pelo menos com uma camisa relacionada ao tema, melhor ainda. E ainda ser fotografado para o Omelete, o Jovem Nerd, a Herói ou a Dragão Brasil…
- Não perder seu tempo em nada que não seja relacionado à nerdice. Ou seja: arrume garotas nerds!
- Tentar dominar o mundo! Exercido muito bem.
Certo, não levem esse Manifesto tão a sério.
Devemos ser nerds, devemos ser geeks, mas esportes, artes marciais ou qualquer outra arte como forma de expressão, e encontros com o sexo oposto não apenas são extremamente prazerosos, como expandem a criatividade para expandir e revolucionar o universo afronerdístico.
O fato é que o mundo já é dos nerds.
E quer saber? Eu tenho o maior orgulho disso…
X-Men Origens: Wolverine
“X-Men Origens: Wolverine” é um filme de trailer.
Logo, se você está em dúvida entre assisti-lo ou não, e já assistiu ao trailer, sem problemas: você já assistiu às melhores partes.
Quando você pega um diretor ainda pouco (re)conhecido, como Gavin Hood no caso, e descobre que lhe entregaram nas mãos um blockbuster, isso significa que os produtores querem o controle total sobre o filme, e um diretor que não bata de frente com isso (ou alguém vai dizer a um “Spielberg” ou “Tarantino” o que ele tem de fazer no set?).
Os produtores dizem “sim” ou “não” a tudo, inclusive aos atores e aos cortes da edição final. O diretor se torna apenas “o cara que manda ligar as câmeras”, e se reclamar demais ele também é demitido, e trocado por outro que vá até lá… bom… “mandar ligar as câmeras de novo”.
Em “Wolverine” isso é claro. Sabe-se que os produtores não gostaram do filme entregue por Gavin Hood e exigiram que “as câmeras fossem ligadas” novamente para filmar cenas extras e “melhorar” o produto final.
O resultado é o de sempre quando falamos em filmes comandados por produtores: muito barulho, pouco sangue (afinal, tem de pegar a censura adolescente), um fiapo de roteiro e mais barulho.
Talvez se “Wolverine” fosse lançado na década de 90, ele passaria como mais um típico filme de heróis, dos quais só se esparava mesmo barulho e alguns diálogos até a próxima explosão.
Entretanto, depois do reinício da franquia de “Batman”, depois dos X-Men de Bryan Singer (ou seja, só até o segundo filme), e depois do início da franquia do “Homem de Ferro”, é difícil voltar a olhar para filmes de super-heróis construídos sobre histórias que beiram ao infantil.
(olha a cara do Batman e do Coringa assistindo a “X-Men Origens: Wolverine”…)
Para começar, um filme que escala Ryan Reynolds (conhecido por comédias que agradam aos americanos) e o rapper Will.I.Am. já não está se levando a sério. Aliás, a impressão que se tem é que o rapper a qualquer momento vai começar a cantar: “se a bunda dela é grande, então é porque é grande igual a da mama!”.
(olha como os produtores de “Wolverine” levam a seleção de elenco a sério…)
Na verdade, já que era para seguir por esse caminho de não levar os coadjuvantes a sério,ao invés de um Deadpool tomando vitamina de mutante, seria muito mais cool se Hugh Jackman enfrentasse o X-Madruga!
E parece que ninguém aprendeu nada com as lições de “Home-Aranha 4″ e “X-Men 3″: muitos personagens; pouca atenção.
Buscando formas de lucrar com outras franquias, diversos personagens vão aparecendo em passagens relâmpagos (como Deadpool, que, surpreendentemente, já recebeu o sinal verde para um filme próprio), Cíclope (cuja participação do ator substituto deve ter sido improvisada, porque nem ele mesmo sabe o que deveria fazer ali) ou Gambit (personagem querido pelos fãs – eu mesmo sempre o considerei meu X-Man preferido – mas neste filme em uma aparição completamente sem sentido para história contada).
(Tem sempre de espremer pra caber todo mundo nas fotos de “X-Men Origens: Wolverine”)
Aliás, o Gambit do filme só é o Gambit porque o chamam assim. É um fato: o ator escolhido não é Gambit, nem tem a postura do personagem.
O Gambit de “Wolverine” não tem aquele jeito canalha característico, não fuma olhando de lado no estilo filme noir (é um filme adolescente…); não tem nem mesmo o sotaque francês (é mole?)! A única coisa que ele faz é virar um anime, fazendo seu bastão de “pirucóptero” (ô nome de brinquedo esquisito…).
(a arma de Gambit em “X-Men Origens: Wolverine”)
Voltando ao roteiro, está o mesmo de sempre lá: frases infames, que parecem escritas por George Lucas, como: “nós somos irmãos. E irmãos cuidam um do outro”. O velho suspiro do aliado morrendo, que ainda tem tempo de dizer algo antes de empacotar, nem se fala.
E a direção de Gavin Hood, coitado, tem de ir no clichê do roteiro. Se um personagem morre, e, claro, Wolverine tem de ficar abraçado ao corpo gritando: “nãããão!”, tome a velha grua subindo e se afastando para mostrar “a dimensão da dor do personagem”. Se Wolverine está andando e escuta um barulho, nada de uma solução sutil: corre com a câmera para a orelha dele mesmo! Se ele sentir um cheiro diferente, dá um close no nariz dele mexendo!
É como um estagiário de terceiro período de faculdade dirigindo o primeiro curta.
Mas o mais irritante de um roteiro ruim também está lá: achar que o público não raciocina sozinho. Logo, em um momento crucial, Wolverine descobre que o XXXX (certo, você já vai saber disso muitos antes de ser revelado, mas não vou dizer ainda assim) e o Striker estão trabalhando juntos. E então imediatamente está explicado porque outro personagem foi morto.
Mas não para os roteiristas! Wolverine tem de falar em voz alta: “aaaaah, é por isso que XXXX morreu! Para que… YYYYY”. Só faltava virar para a câmera e dizer: “entendeu?”.
(Wolverine ficou assim depois que viu o que fizeram com sua origem no cinema)
Outra história que o roteiro remete, propositadamente ou não, é a de “Mortal Kombat”. Muitas mortes são idênticas aos fatalites (tem até a da coluna vertebral do Sub-Zero), e a motivação que optaram para a relação entre “Dente-de-Sabre” e “Wolverine” é a mesma da relação entre “Scorpion” e “Sub-zero”.
E ainda sinto tonteiras com a cena das balas desvidas pelas katanas.
Quando se pega um filme como “O Procurado”, que não se leva a sério desde o início, então se aceita de forma relaxada esse tipo de abordagem, e se diverte. O problema de “Wolverine” é que ele começa se levando a sério, e então descamba para momentos como esse, com atores que definitivamente estão ali apenas para ganhar o seu e a exposição que um filme desses gera.
A melhor dica: fique com o game. O roteiro é muito melhor (tanto que Hugh Jackman admitiu que quando viu o game, roubou várias falas para o roteiro do filme), e Wolverine está animal como deveria ser, cortando a tudo e a todos e sendo desenvolvido da maneira que merece. Afinal, ele não é um personagem para servir de escada para ninguém.
Logo, é um filme bom de se assistir no DVD, e mais: acompanhado.
Assim, o casal só precisa prestar atenção quando o filme começar a fazer barulho.
E aí sim, “X-Men Origens: Wolverine” vira um bom programa.