Da Série: Frases de Escritores Fantásticos II

Diálogo entre Draccon e Vianco, um mês antes da mesa “A influência do cinema  na Literatura Fantástica”, em Julho de 2008 no Fantasticon.

DRACCON: Caramba, o Gaiman vem no Brasil esse ano pra FLIP! E sabe da maior? A mesa dele vai ser na mesma hora da nossa no Fantasticon!

VIANCO: Caraca! Quer dizer que o cara não vai poder assistir a gente???

DRACCON: Uwahahahahaha!

Draccon no Anno Domini – Casa das Rosas

 

Mais uma vez em São Paulo, dessa vez sem tanto frio, para um interessantíssimo evento: o lançamento da antologia de contos medievais e fantásticos “Anno Domini”.

Para aqueles que não leram nada sobre isso até agora, trata-se de uma antologia da Andross Editora, em que recebi o convite para ser “convidado de honra” através da simpática escritora e organizadora Helena Gomes.


(Helena Gomes)

O evento ocorreu na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, e contou com a presença de 36 dos 50 autores do livro. Local espetacular; miolo e capa bem-feitos; coquetel competente (acho; a noite foi tão agitada que quando lembrei de “procurar” por uma taça de… ãhnn… guaraná, o coquetel já tinha encerrado).

Anno Domini foi tudo o que a expectativa prometeu (bom, sempre há a chance de eu estar errado. Talvez ele tenha sido um pouco mais…).

De longe, o mais interessante foi ver as estrelas da festa em ação: observar os autores de Anno Domini exibindo crachás no peito como uma merecida medalha de um soldado que sobrevive à guerra.

Sabem, eu sei que eu e Cláudio Villa éramos os “convidados de honra” ali do projeto, convite feito por já estarmos publicados cada um à sua maneira no mercado editorial, mas, sinceramente, para mim cada um daqueles autores eram estrelas que brilhavam demais.

Alguns talvez por luz própria, alguns talvez pelo conjunto que o momento representava; mas ali, naquela Casa das Rosas, todos brilhavam e vibravam na mesma sintonia devido à egrégora que forma o sentimento que habita o coração de um escritor.

Porque todo ser humano que segura nas mãos um sonho, não o deixa escorrer como grãos de areia. [não mesmo?]. Não, não deixa não. [e por que não?].

Porque se cada grão de areia possui realmente tudo o que pulsa no universo dentro dele, então o que pulsará no coração de quem dá vida a universos que brilham além do que a razão pode explicar?

Eu respondo: éter.

O que eu via naquela Casa eram corações nascidos na poesia do ser humano ordinário que não desiste, e sonha com a realização de feitos extraordinários.

Aqueles eram escritores que tinham em mãos a primeira publicação, mas era muito mais do que isso. Aquele era o momento em que o mundo (ou uma parte do mundo) parava de girar, para não apenas notar suas existências, como fazê-los sentir um pouco o gosto do sucesso do escritor que não desiste.

Não faço idéia de quantos livros assinei nesse sábado, dia 19. Nem de quantas pessoas conversei rapidamente (infelizmente, pelo tempo havia de ser sempre mais rapidamente do que a vontade gostaria), nem para quantas fotos fiz poses (e, provavelmente, saí de olhos fechados! Tenho problemas com máquinas que disparam dois flashes antes do registro na memória digital).

Mas me lembro sim de uma coisa. E me lembro bem.

Me lembro de cada autor que chegava até mim e me pedia um autógrafo, e do olhar que transcendia a compostura, quando eu lhes entregava meu próprio exemplar, e dizia:

“É claro. Mas é assim que você agradece…”.

         

Alguns poucos; muitos poucos daqueles chegarão até o fim da estrada solo completa (todos têm talento; mas a estrada, infelizmente, exige algo além do escritor sobrevivente), mas isso não tem importância, pois o mundo parou e se tornou mais puro por um momento.

Pois todo universo, real ou fictício, se emociona diante de homens que realizam sonhos, ou se inspiram nesse sonhar.

E todos eles irão sempre se lembrar, seja na carreira de escritor seja na de ser humano, do dia em que o mundo parou por eles. E para eles.

Naquele sábado, eu fui um mero convidado de honra.

Mas cada um daqueles outros 34 autores foram mais, foram muito mais do que isso. Eles foram estrelas. Eles foram dragões.

Dragões divinos. Dragões fantásticos.

Dragões de éter.

Fantasticon 2008, por Roberto de Souza Causo

E como prometido, aqui abaixo está o texto do escritor e crítico Roberto de Souza Causo sobre minha mesa no Fantasticon, ao lado de André Vianco, Vivi Amaral e Alfredo Suppia.

Quem quiser acompanhar a cobertura do evento completo (vale à pena!), pode acessar o texto através do link http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3004240-EI6622,00.html

Enjoy.

Fantasticon 2008

Roberto de Sousa Causo
De São Paulo

(…) 

Então saltei para o painel “A Invasão do Cinema na Literatura Fantástica” (as atividades desta FantastiCon tinham uma sobreposição de meia hora a uma hora, para facilitar esses pulos de uma para a outra). André Vianco, o best-seller do horror nacional, e que tem tentado filmar seus livros Os Sete e Bento, apontou a falta de ousadia do cinema nacional, que tem medo de efeitos especiais. Também disse que os intelectuais condenam se escrever pensando em cinema, mas observou que há autonomia no processo de escrita, que vem primeiro, livrando-o da pecha de subordinado a um meio de maior difusão comercial. Vianco pretende dirigir suas adaptações.

Raphael Draccon, autor do romance de fantasia Dragões do Éter, elogiado por Vianco, é também roteirista de cinema e leitor de roteiros submetidos à produtora de Fernando Meirelles, O2. Para ele, a relação literatura/cinema é natural. Comentou que “os autores clássicos não tiveram concorrência multimídia, ou também teriam pensado em cinema”. Contrariando profissionais como Doc Comparato, que acham que o roteirista está mais próximo do diretor, do que o escritor, Draccon pensa que o roteirista está mais próximo da literatura.

De fala mansa e ponderada, Draccon disse que a maioria dos roteiros que chegam até ele são mal escritos e esquemáticos, mas informou que um dos que passaram por ele está rodando em Hollywood. Enfim, defendeu que “a geração de hoje é visual – ela escreve vendo um filme”, e não necessariamente tendo o cinema como um segundo passo. Como roteirizar está próximo da literatura, é contato com literatura que os novatos devem priorizar. Mais da sua fala está no blog de Draccon: http://www.raphaeldraccon.com/blog.

Vivi Amaral falou da Mostra Curta Fantástico (http://www.mostracurtafantastico.com.br), que ela ajuda a coordenar, e concorda que o cinema sofre de preconceito sobre o aspecto comercial. Conhece produções amadoras de FC e horror, a filmes nacionais feitos com imagens de computador perfeitas, em parte por causa da qualidade profissional encontrada no meio publicitário. Perante a pergunta de se a atual vibração na área poderá sair de moda, ela disse que “tudo é cíclico”, mas que não dá sinais de arrefecer.

Alfredo Suppia, doutor em cinema pela UNICAMP e especialista em cinema brasileiro de FC, também enxerga parentesco entre a sétima arte e a literatura; mencionou que, por exemplo, o cinema americano clássico também nasce da adaptação literária. “Verbo e imagem estão mais ligados do que pensamos”, disse. Concorda com Vianco, de que o cinema brasileiro é muito tímido, e notou que os argentinos são mais ousados. Na questão dos efeitos especiais como limitadores, pergunta se “não seria uma alternativa investir mais na criatividade”. Deu exemplos de filmes de FC e horror menos dependentes dos efeitos especiais, entre eles o curta nacional Barbosa. Para ele, “há muita criatividade na FC brasileira”, faltando mesmo a atenção dos produtores. Suppia também tem fala mansa e nenhum ranço acadêmico.

Enfim, foi uma mesa de participações sólidas, mas um tanto truncada pelo atraso inicial. Achei que as de Amaral e Draccon (que claramente havia preparado a sua comunicação antes) acabaram abreviadas.

Da Série: Frases de Escritores Fantásticos

(diálogo entre Raphael Draccon e André Vianco

DRACCON: Sabe, eu não entendo esse tal de “bloqueio criativo”. Nunca soube que negócio é esse!

VIANCO: Eu já! Já passei umas duas semanas por isso…

DRACCON: Isso não é “bloqueio criativo”, cacete! Isso são “férias”!

VIANCO: Uwahahahaha!

São Paulo e o Fantasticon 2008 (e uma noite com André Vianco e Starbucks Coffee)

Madrugada de terça-feira, dois dias depois da experiência de participar do Fantasticon 2008; o evento de literatura fantástica mais importante do país, e da cidade que merece o mesmo adjetivo.

Capítulo I – Congelando (em) São Paulo

Sabem, uma vez tentei entender de onde André Vianco tirou a idéia de um maldito vampiro que congela o tempo” (se você não leu “Os Sete”, isso é um spoiler! Logo, passe o mouse por conta e risco).

O interessante é que chegar em São Paulo às 6 da manhã já responde essa dúvida. Afinal, a resposta era: do fato dele ser paulistano. Descobri que, se fosse eu também um escritor de São Paulo, provavelmente criaria um personagem que seria capaz de fazer a mesma coisa…

Batendo o queixo, tremendo um pouco, e agradecendo por um pouco de luz de sol (o que não impede de se permanecer encasacado nessa cidade incrível), meu agente me levou ao Colégio Arquidiocesano no horário próximo do meio-dia.

O grande motivo: uma mesa envolvendo como tema a “invasão do cinema na literatura fantástica”.

Ao lado de feras do naipe de meu já citado amigo André Vianco, a produtora Vivi Amaral, da Fy Cow, e o mestre em multimeios Alfredo Suppia (que, por sinal, acabou se mostrando muito mais jovem do que eu imaginava a princípio), nós debatemos os mais diversos assuntos envolvendo cinema e literatura.

Sobre a mesa em si, ela foi ótima. Como ela começou “um pouco” atrasada, acabou que, quando terminou, a impressão que se tinha era de que poderia durar mais uma hora inteira, pois todos os quatro ainda teriam algo a dizer.

Falamos sobre literatura x cinema; sobre profundidade x conflito dos personagens; sobre modismo na fantasia; sobre falta de ousadia no cinema fantástico brasileiro; e por aí vai. Foi um quadrangular muito interessante; Sílvio Alexandre foi muito feliz ao montar tal mesa.

A propósito: Sílvio Alexandre é um cara para quem se tem de tirar o chapéu. Organizar um evento desses é uma iniciativa fabulosa, e, como se já não bastasse, o sujeito ainda é uma simpatia e não pára de ter idéia em prol da divulgação desse tipo de literatura.

Como escritor o mais interessante desses eventos é conhecer pessoas que normalmente nós conhecemos apenas pelos trabalhos delas, ou pela troca de mensagens eletrônicas.

Logo, poder conhecer pessoalmente dragões (quando se fala em fantasia, isso é um elogio; em qualquer outra circunstância, não…) do mercado editorial fantástico como Helena Gomes, Rosana Rios (que citou “Dragões de Éter” em sua palestra), Cláudio Villa, Nazarethe Fonseca, Nélson Magrini e Roberto de Souza Causo, não tem preço.

Aliás, a presença de Causo me foi uma grata surpresa, afinal, não apenas o citei, como havia levado impresso uma de suas críticas para usar um parágrafo de base para um argumento sobre escritores que não gostam de ler (e escrever uma frase dessas é ainda mais surreal do que debater sobre).

Outro ponto interessante da presença de Causo, é que ele provavelmente vai fazer um resumo do que foi a mesa e seus temas debatidos de uma forma muito mais competente do que eu (e quando ele o fizer, coloco o link aqui no blog), o que me permite falar sobre os bastidores daquele sábado sem peso na consciência.

Sem peso na consciência.

Capítulo II – Sabres de Luz

Estar no Encontro Internacional de RPG significa cruzar com cosplayers de Darth Vader, Smoke (do Mortal Kombat), piratas, cavaleiros-autores vestidos com armaduras vendendo livros de fantasia e todos (sim, sim: todos) os personagens de Naruto. E falo desde aqueles que ainda devem estar vivos; até os que não sobreviveram até o fim (acho eu; hoje em dia a gente nunca sabe o que significa exatamente “morrer” em animes e comics da DC, não é mesmo?).


(é… coisas assim são normais no Encontro Internacional de RPG…)

Você vê pessoas se digladiando com espadas de espuma em uma imenso pátio colegial, enquanto come tranqüilamente uma coxinha com guaraná natural com a naturalidade de um inspetor sonolento, que vê crianças brincando de pique à espera da sirene que as mande de volta às salas de aula.


(sim… coisas assim também…)

E você vê centenas de pessoas empolgadas de preto (fico imaginando o que aconteceria se alguém vestido, por exemplo, de vermelho tentasse se sentar ali! Acho que teriam de jogar um D20 para saber…) sentadas sobre mesas que sustentam egrégoras de formas-pensamento que moldam mundos de éter fantásticos demais para a razão compreender, e onde apenas a imaginação de cada uma delas é capaz de tocar. E manter.

Se você for um escritor, e tiver algum livro publicado (mesmo que da forma mais independente), você provavelmente verá seu livro em algum estande armado (e provavelmente será o da Devir), e com sorte talvez algum leitor até lhe reconheça e peça seu autógrafo. Talvez o mesmo leitor ainda queira levar uma foto, elogiar ou reclamar de alguma passagem da história de vocês.

Entretanto, por mais que um escritor de fantasia nacional tenha um breve momento de rockstar de 15 minutos como se fosse um escritor na FLIP (obviamente, com exceção de Gaiman que é rockstar 24 horas), você sabe que não é a estrela daquele pátio.

Compreensível; não há como ser estrela quando personagens já maiores que seus criadores transitam de um lado a outro com a maior naturalidade do mundo, e posam para fotos fazendo poses de perfomances dignas de filmes B (lembra aquela questão de metáforas que funcionam como “elogios” de acordo com circunstâncias?).

E não podemos reclamar realmente desse assédio curioso, pois mesmo nós, que deveríamos ser criadores, de vez em quando sentimos vontade de levar uma foto de recordação como verdadeiros tietes de tais criaturas.

Afinal, é um fato: não, não dá.

Não dá para competir com Darth Vader.

Capítulo III – Vendendo Sonhos e(m) Starbucks Coffees

Após o Fantasticon, depois de um almoço em uma lotada praça de alimentação do Shopping Santa Cruz, entupida de garotos (e meninas) de preto, segui para uma noite de autógrafos do livro “O Vendedor de Sonhos”, do ultra-mega-best-seller Augusto Cury (nós temos o mesmo agente), na Saraiva do Morumbi Shopping.

Curiosidade: quando adaptei o romance “O Futuro da Humanidade”, do próprio Cury, para o cinema em um filme que talvez um dia exista, ele havia me dito que achava melhor modificar o título do roteiro. Eu sugeri “O Vendedor de Sonhos”, e Cury fez uma expressão pensativa e satisfeita, de quem havia gostado muito do título.

Pelo visto, ele gostou realmente do título.


(o vendedor de sonhos…)

Encontrei alguns Highlanders da Planeta, com quem pude discutir alguns assuntos editoriais, mas então em seguida enfim entendi porque o destino havia me levado até lá feito uma folha seca solta no roteiro de Forrest Gump: para que meu agente me apresentasse ao Starbucks Coffee.

Sabe, conhecer um local que serve cafés gelados misturados com chocolate, e com pedaços de chocolate dentro, é capaz de fazer um carioca que não gosta de café querer passar frio novamente em SP, apenas para refazer a experiência.

Cheguei à conclusão de que se Adão ficou tão entusiasmado com uma mísera maçã, se uma serpente tivesse lhe oferecido um copo “Tall” de Starbuck Coffee como pecado original, ele teria inaugurado ali mesmo o pecado da orgia.

E Eva que se preparasse, afinal, com tanta cafeína no sangue, e sem televisão a cabo, ela teria de ter bastante energia quando o sol se fosse…

Capítulo IV – O Turno da Noite

E a noite ainda teve fôlego para  uma volta pela noite paulistana como co-piloto de Vianco. Era a hora de conhecer a metrópole pelos olhos de um de seus escritores mais clássicos.

É claro que ele quis me levar a Osasco, e é claro que ele quis me levar ao “Theatro dos Vampiros” (e se você vai a São Paulo e pretende viver eternamente, é melhor ser iniciado nos rituais vampíricos por André Vianco, não?).

Sabe, ver São Paulo à noite, quando o sol resolve descansar, e as luzes dos postes, dos prédios e dos monumentos são acesas (principalmente as coloridas, das blitzes animadas com a “lei seca”), é uma beleza que cativa e marca a memória.

A arquitetura daquele lugar tem quase poesia por detrás de seus grilhões de ferro e suas vidraças escurecidas. Uma poesia que pode melhor ser vista à noite quando as estradas estão livres, e o trânsito não está engarrafado à espera de uma tempestade que economize gasolina e transporte os carros de lugar.

O Rio de Janeiro tem sua beleza calcada na beleza natural de suas praias, lagoas, e arborização. São Paulo, porém, tem sua beleza exatamente na urbanização que explode no rosto de quem a vê por fora, e sente a mesma sensação do coração que pulsa diante da tecnologia e do progresso que assusta. E fascina.

Ah, sim! E terminamos essa noite em um bar de Pinheiros, à base de saladas e carpaccios servidos com cerveja escura e coca zero.

Do lado de fora, no meio da rua, cinco meninas animadas, expremidas dentro de uma Fiat, nos avistaram lá na janela do segundo andar, e começaram a buzinar e a gritar coisas surreais do tipo: “olha, olha lá no segundo andar!” e “uuuuh, bonitão!”. Vianco insistiu que aquelas reações todas eram para mim.

Eu acreditei.

Afinal, em uma cidade onde vampiros fazem coisas nas avenidas e cafés gelados são servidos com pedaços de chocolate, tudo; tudo parece realmente muito mais fantástico…