Matéria no UOL Entretenimento

Excelente matéria de Rodrigo Casarin sobre a nova literatura fantástica nacional na Bienal de SP  para o Uol Entretenimento.

Link original: http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/08/28/bienal-se-firma-como-principal-palco-da-literatura-fantastica-nacional.htm

Enjoy!

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BIENAL APOSTA EM NOVOS AUTORES DA LITERATURA FANTÁSTICA NACIONAL

Rodrigo Casarin
Do UOL, em São PauloAmpliar

BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO 201434 FOTOS

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23.ago.2014- Sophia Abrahão e Carolina Munhoz posam juntas na Bienal antes da sessão de autógrafos do livro “O Reino das Vozes Que Não Se Calam” Caio Duran /AgNews

Nesta quinta-feira (28), às 18h, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo realizará a mesa “Literatura Fantástica – a fantasia ganhando espaço”, com os escritores Affonso Solano, Carolina Munhóz e Raphael Draccon. O título da conversa soa bastante oportuno, principalmente se observarmos como a literatura feita com dragões, magos, vampiros, gnomos, elfos e outros seres do tipo ocupa a Bienal. São diversos eventos que tratam do gênero. “A Bienal é o evento de literatura mais popular do país. Por essa característica, atrai o público que ama a cultura pop, onde nós incluímos a maioria do público jovem, principal consumidor da literatura fantástica”, diz Draccon, autor da bem-sucedida trilogia “Os Dragões de Éter”.

André Vianco, um dos principais nomes do segmento, tem uma opinião complementar. “Parece que grande parte dos organizadores, curadores de feiras e eventos do mercado do livro se renderam à fantasia vendo o grande número de leitores que os escritores do gênero atraem para os eventos”. Já Eduardo Spohr, outro autor de destaque, enxerga essa presença como uma consequência da força que o nicho possui. “Ele não está só na Bienal, mas em diversos eventos que têm se espalhado pelo Brasil. Não me refiro só aos com organização oficial, mas falo também de clubes de livros e de encontros agendados por donos de blogs, por exemplo. A internet tem se tornado uma belíssima ferramenta de comunicação para os amantes da literatura, e o legal é ver que essas pessoas também têm se reunido ao vivo, para trocar ideias e experiências.”

Além de discussões e encontros de leitores, analisando a programação oficial do evento e das editoras é possível encontrar dezenas de lançamentos de autores nacionais do gênero. O próprio Draccon é um dos que apresentará seu novo livro, “Cemitérios de Dragões”, ao público na Bienal, no sábado, dia 30, com direito a show de cosplay. Por lá, Carolina Munhóz, sua parceira de mesa, já lançou “O Reino das Vozes que Não se Calam”, escrito em co-autoria com a atriz Sophia Abrahão. Algumas outras novidades são “Átina Black e o Império de Cronos”, de Valentine Cirano, “Eterno Castigo”, de Kizzy Ysatis, “Sombra de um Anjo”, de Ana Beatriz Azevedo Brandão – uma menina de 14 anos – e “Exorcismos, Amores e uma Dose de Blues”, de Eric Novello.

Reprodução

Capa do livro “Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues”, de Eric Novello, aposta da nova literatura fantástica

Apostas
Novello é apontado por Draccon como um dos nomes do gênero que devem despontar com força em breve. Outro que o indicou como grande promessa foi Felipe Pena, escritor, doutor em Letras e organizador da coletânea “Geração Subzero”, que deu destaque a muitos autores do segmento. “Ele tem perfeito domínio da narrativa, não é óbvio e conhece bem seu instrumento de trabalho, que é a língua portuguesa”, declarou Pena.

Quem também é indicada como alguém a se prestar atenção é Bárbara Morais, autora de “A Ilha dos Dissidentes”, que, na Bienal, lança “A Ameaça Invisível”. “Ela  honra a tradição feminina que se vê hoje em dia na literatura internacional em relação às distopias”, diz Draccon. “Ela se inspira em distopias e mutantes (X-Men) para falar de segregação social e abordar diversidade étnica e sexual”, argumenta Novello.

Felipe Castilho, autor de “Ouro, Fogo e Megabytes”, que faz fantasia a partir do folclore brasileiro e já começa a ser lido até mesmo em escolas, é outra aposta. Vianco o considera um exemplo de quem sabe dar caráter nacional a um gênero bastante influenciado pelo que é feito no exterior. ” A maioria das obras lançadas soa muito como emulação de franquias de mercado norte-americano e inglês, faltando brasilidade nos livros. Ainda que o autor eleja criaturas tradicionais do folclore estrangeiro, é preciso pôr uma tinta brasileira nesses bichos, é preciso inventar com mais coisas daqui, como faz bem o Felipe.”

Ao ser perguntado como está a literatura fantástica no Brasil, Vianco se queixa da ausência de ousadia. “Por incrível que pareça, acho que falta um pouco de invenção”. Entretanto outros autores têm uma visão mais positiva. Draccon diz que ela está “consolidada, seja na confiança dos leitores ou dos editores”, enquanto Pena define o momento como “pulsante”. “É o gênero que mais cresce.  As editoras estão investindo, novos escritores estão aparecendo e os leitores continuam aumentando.”

Nos últimos anos, com o crescimento do interesse do leitor brasileiro pela fantasia – em muito graças a adaptações para o cinema e televisão, como “O Senhor dos Anéis” e “Game of Thrones”, e do sucesso de séries como “Jogos Vorazes” ou até mesmo “Harry Potter” –, o nicho despertou real interesse das editoras. Uma prova disso é que duas importantes casas, a Rocco e a Leya, recentemente criaram selos (Fantástica Rocco e Fantasy – Casa da Palavra, respectivamente) para abrigar esse tipo de livro. Outras já haviam feito movimento semelhante, como a Record, que publica obras do gênero pelo Galera Record.

A trinca fantástica
Se o momento da literatura fantástica nacional é de efervescência, isso muito se deve a Vianco, apontado como principal representante do gênero. Seu primeiro romance, “O Senhor da Chuva”, saiu em 1998 e foi sucedido de “Os Sete”, de 1999, que teve a primeira edição bancada pelo próprio autor, mas despertou atenção do mercado editorial. Com narrativas normalmente protagonizadas por vampiros, a partir de então vieram títulos como “O Vampiro – Rei” e “Vampiros do Rio Douro”. Se somados todos seus títulos, Vianco já vendeu acima de 900 mil exemplares. Mais do que isso, foi uma espécie de abre-alas para que diversos autores pudessem ter seu espaço.

Wagner Carvalho/DivulgaçãoEra um espaço modesto, num canto do pavilhão, e nós transformamos aquilo em uma Comic-Con, com vikings entoando gritos de guerra, bruxa com a pele derretida sendo maquiada ao vivo (…) Era uma aposta arriscada, mas o estande virou uma loucura!Rapahel Draccon, , lembrando das primeiras incursões da literatura fantástica na Bienal do Livro de SP

Outro que despontou com uma força estrondosa é Eduardo Spohr, que em 2010 lançou “A Batalha do Apocalipse”. Para compor a obra – sucedida de títulos como “Filhos do Éden” – o escritor criou uma espécie de mitologia própria, em movimento semelhante ao feito por J.R.R. Tolkien em “O Senhor dos Anéis”. Spohr já ultrapassou a marca dos 600 mil livros vendidos, entretanto, procura afastar os holofotes de si mesmo. “Os principais nomes da nossa literatura são e sempre foram os leitores, não os autores. Os autores são apenas coadjuvantes nesse processo. São os leitores que movimentam essa máquina e que nos permitem continuar trabalhando”.

Quem completa a trinca fantástica dos principais escritores do gênero no país é Raphael Draccon. Sua obra de maior destaque é a série “Dragões do Éter”, que já vendeu cerca de 300 mil exemplares. Draccon credita muito de seu sucesso justamente à Bienal, em especial à edição de 2010. “Era a estreia da editora Leya no Brasil, com um espaço modesto, num canto do pavilhão, e nós transformamos aquilo em uma Comic-Con, com a presença dos personagens, vikings entoando gritos de guerra com o público, bruxa com a pele derretida sendo maquiada ao vivo e animação passando na TV. Era uma aposta arriscada, mas o estande virou uma loucura!”. Assume também que não teria oportunidade melhor para marcar a sua estreia na Rocco. “A Bienal de São Paulo foi e sempre será o evento da minha vida”.

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