A Recriação dos Contos de Fadas em Dragões de Éter

Post bem detalhado e bem-humorado de Sérgio Magalhães para o Azilator.

Link original: http://azilator.com.br/baiao-de-letras/a-recriacao-dos-contos-de-fadas-em-dragoes-de-eter/

Enjoy.

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A Recriação dos Contos de Fadas em Dragões de Éter

Antes de falar sobre o assunto de hoje, não posso começar esse primeiro Baião de Letras do ano sem dizer feliz 2014 amigos leitores!

Pois é, atravessamos nosso primeiro ano aqui no Azilator sem nenhuma falha, mantendo as publicações toda segunda feira religiosamente. Não vou me estender mais sobre o Baião em si, até porque tudo o que poderia dizer, já o foi no último post. Só gostaria de dizer que, se depender de meu esforço e vontade, vamos passar mais um ano falando muito sobre leitura e literatura por aqui. Mas essa coluna não é algo único; precisamos de seu apoio sempre, comentando, indicando e compartilhando as publicações com os amigos, certo? Vocês são o combustível desse trabalho!

Sem mais, vamos ao tema de hoje…

Vamos falar de Tekpix

Dragões de Éter (LeYa), trilogia que teve seu primeiro livro publicado sem muito alarde em 2007, é hoje um dos bastiões de nossa, cada vez mais forte, literatura de fantasia nacional. Seu autor, Raphael Draccon, é tido como um dos mais prolíficos escritores dessa nova geração, isso é inquestionável. Porém, devo confessar que até ler Caçadores de Bruxas, primeiro volume dessa trilogia, eu desconhecia totalmente qualquer coisa sobre o livro. Certo, eu sabia que ele foi escrito com base em contos de fadas mas, fora isso, a obra sempre foi um profundo mistério para mim. Como leitor, sofro do eterno problema que muitos de vocês, certamente, conhecem muito bem: ter mais livros na estante do que se consegue ler! Principalmente no atual mercado editorial brasileiro, é quase impossível acompanhar sequer os lançamentos, imagina voltar para ler livros já publicados.

Com relação à obra de Draccon, isso mudou para mim quando aproveitei uma oportuna promoção de um site de vendas on-line, muito motivado pelas novas capas ilustradas pelo mestre Mark Simonetti (o mesmo que ilustrou as capas nacionais d’As Crõnicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin). Sempre tive – e ainda tenho -, uma dívida pessoal com alguns autores bastante conhecidos, mas que não tive a oportunidade de ler; como já disse algumas vezes, sou um leitor tardio de obras de caráter nerd/geek. Ora, tão logo o box com a trilogia chegou, não resisti a tentação de passar ele na frente de outros livros da fila, e tive que desvendar as páginas, para mim, desconhecidas e deveras misteriosas até então. E como me alegro por ter feito isso!

Zezé di Camargo e Draccon – Separados no Nascimento

Dizem que se um livro não lhe ganha logo nas primeiras páginas ele não será bom para você! Então o que dizer de um que lhe ganha na primeira página? Ou melhor, no primeiro parágrafo? Na primeira linha?! Pois foi isso que aconteceu quando abri Dragões de Éter – Vol.1 Caçadores de Bruxas. Fui surpreendido logo de cara por vários aspectos que, juntos, compõe um dos livros mais significativos que tive a oportunidade de ler – dentro de seu gênero, óbvio.

O que sabia sobre o livro se provou verdade logo de inicio, o enredo é construído basicamente sobre contos de fadas mundialmente conhecidos. Porém, seu objetivo com isso não é narrar sobre uma nova ótica essas estórias, mas ir além do “E foram felizes para sempre…”, continuar o enredo exatamente do ponto em que pararam, sem, com isso, negligenciar o conto original, contado de forma precisa logo no começo do livro. Vários contos são citados ao longo da narrativa com referências que, ao mesmo tempo remetem ao original, e reveste-o com uma nova e interessante visão.

Dentre essas estórias que lhes serve de base, três em especial formam o enredo principal neste primeiro volume da trilogia: João e Maria (Irmãos Grimm), Chapeuzinho Vermelho (Irmãos Grimm) e Peter Pan (J.M. Barrie). Como disse acima, outros contos surgem ao longo do livro (Branca de Neve, O Príncipe Sapo), até mesmo como fortes referências, mas a estrutura básica da obra é construída sobre esses três descritos.

Fazendo um resumo rápido do livro (sem entregar nada que estrague sua leitura, claro) ele narra algumas estórias que, ao longo do enredo, se entrelaçam e acabam se conflitando no final. Uma delas é a de Ariane, uma jovem que vê sua avó ser morta por um terrível lobo, e é salva por um corajoso caçador; outra conta a tragédia de João e Maria, dois irmãos que, deixados sozinhos no bosque pelos país – por um motivo explicado depois -, acabam sendo capturados por uma bruxa que pretende devorá-los; em outro local, vislumbramos a saga de Jamil Coração de Crocodilo, filho legítimo, mas não querido, do infame Capitão James Gancho; e por fim temos a trama da família real Branford, mais precisamente de seu filho, e príncipe, mais novo, Axel. O enredo se concentra em Andreanne, capital do reino de Arzallum.

Governado por Primo Terra Branford, Rei que conquistou sua coroa após liderar uma épica batalha contra as mais malignas criaturas do mundo, fato conhecido como Caçadas às Bruxas, ele vê, de repente, seu reino tomado pelas terríveis maquinações do pirata Jamil Coração de Crocodilo, que trás a guerra e o medo para dentro das muralhas da cidade-capital.

Dragões de Éter sem preconceitos com raças.

Não podemos prosseguir mais sem antes citar o mundo criado por Draccon para ambientar a trilogia. Nova Ether é, ao mesmo tempo, um mundo bem focado no estilo Alta Fantasia – em que brilham o trabalho de J.R.R. Tolkien e C.S.Lewis -, mas diferente mesmo assim. Segundo narrador, este mundo só existe pela força do pensamento de um semideus, conhecido como O Criador; um fruto direto da influencia dessa entidade dentro deste mundo são as fadas, semideusas que são extensões da vontade deste ser semidivino.

Nova Ether possui como base os conceitos da fantasia medieval, mas vão além disso em alguns momentos, sendo um ambiente bem mais mágico, sobrenatural e mutável que a Terra-Média ou Nárnia. Fora isso, as referências sempre presentes á elementos da cultura pop contemporânea (Final Fantasy, Nirvana, etc) concedem um ar ainda mais envolvente ao ambiente descrito.

Duvido a chapeuzinho entrar nessa floresta oh doido… eu duvido!

Mais acima, disse que alguns aspectos me chamaram a atenção no livro e que, juntos, a tornam uma obra singular dentro de seu estilo. Então, o que destaco como mais surpreendente, dentre todos esses aspectos citados, é a forma como são abordados os contos de fadas ao longo do enredo. Sim, como já denunciei o autor não pretende recontar, mas estender as tramas para além do que se sabe no senso comum, inclusive contextualizando vários acontecimentos que sempre causaram estranheza aos leitores/ouvintes como: por que a mãe da chapeuzinho vermelho deixou ela ir sozinha visitar a avó  que morava no meio de uma floresta? Por que os pais de João e Maria os abandonaram no bosque?

Em Caçadores de Bruxas essas e muitas outras perguntas são respondidas, e muito bem, pelo enredo envolvente e bem construído do autor. Outro ponto de imenso – mas IMENSO mesmo -, destaque se refere ao narrador da trama. Escrito em terceira pessoa (narrador-observador), a fala escrita aqui remete diretamente ao Bardo que, na tradição oral em que surgiram a maioria desses contos de fadas, contava suas lendas e fábulas ao redor da fogueira em pequenos vilarejos medievais. O modo como a narração se desenrola recria, de forma sublime, a contação de histórias do menestrel antigo – inclusive na forma como dialoga com o leitor e questiona as motivações dos personagens do enredo elementos do cenário.

Embora não seja algo novo em literatura, o modo como foi inserido aqui concedeu ao livro um tom marcante, e inesquecível ao leitor, garanto.

Perainda que eu rô subir bem ali assPUTAQUIPARIU!!!!

Agora vê deve estar pensando “e não existe ruim no livro?”. Sim, existem sim. No entanto, pequenos detalhes, quase irrelevantes, perdem ainda mais sua significância quando os acertos são tão incríveis! Duvida do que estou dizendo, então folheie o quanto antes do livro e descubra. Finalizei Caçadores de Bruxas, primeiro livro da trilogia Dragões de Éter, com uma sensação de descoberta, e satisfação literária; semelhante á alguém que acaba de descobrir algo novo e, ao mesmo tempo tão maravilhoso, que necessita compartilhar com alguém o quanto antes – agora você sabe por que o primeiro Baião do ano é sobre esse livro, hein?!. Fico feliz que ainda restem mais dois livros pela frente. Não sei nada sobre eles, nem se são continuações diretas do enredo deste primeiro livro, mas não me aguento de ansiedade para ler. Assim, aguardem em breve resenhas deles por aqui, certo?

Espero ter esclarecido um pouco sobre o livro, e que possam se motivar à lê-lo tão logo o tenham mãos. Há, não esqueçam, caso tenham gostado não deixem de compartilhar, e comentar sobre suas experiências com esse, e outras leituras.

Abraço e até a próxima.

Comentários

uma resposta to “A Recriação dos Contos de Fadas em Dragões de Éter”

  1. Adrian Fagundes Alves on abril 12th, 2018 1:58 pm

    Resposta respondida de joão e maria caçadores de bruxa

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