Raphael Draccon: “Eu amo Rubem Fonseca”

Recentemente foi publicada uma entrevista comigo, que acabou gerando uma polemica devido a alguns trechos selecionados que foram interpretados fora de contexto. Vamos lá:

Rubem Fonseca

Primeiro, eu amo Rubem Fonseca. Acho que ele é um dos escritores mais viscerais e desde o anúncio da lista dos escritores brasileiros em Frankfurt, defendi veemente que ele deveria estar lá.

Na matéria citada, contudo, para minha surpresa acabou se utilizando o título: “Rubem Fonseca hoje não seria publicado”.

Primeiro, a referência não foi ao escritor em si. Na ocasião me referi ao “estilo Rubem Fonseca” no sentido de se optar pelo isolamento e não exposição.

Outro detalhe importante: a referência não foi ao mercado editorial por inteiro, mas especificamente na área de literatura fantástica nacional.

O contexto era o seguinte: se hoje um autor de literatura fantástica brasileira chegar em uma editora e afirmar que não pretende dar entrevistas, participar de palestras ou mesmo do corpo a corpo com leitores do país inteiro, ele não será publicado, pois as regras do mercado da literatura fantástica BR de hoje exigem isso.

Já em outros setores literários são outras regras.

Simples assim.

Seleção Fantasy

Isso é algo que explico em toda palestra que faço: hoje em dia todo mundo está escrevendo um livro, logo é preciso um diferencial. Existem muitos escritores ótimos, mas as grades são pequenas. Para dar uma ideia, a Fantasy publica uns 8 ou 9 livros por ano apenas. Muitas vezes tem-se dez excelentes títulos em uma mesa para uma vaga por exemplo, mas a verba e as possibilidades são restritas. Logo, é preciso critérios.

Cada empresa possui os seus. Na Fantasy, gosto de conversar com os autores em potencial para descobrir em qual deles confiar mais. Saber o que mais eles possuem, além de uma excelente história.

Algumas vezes eles emocionam pela luta até ali. Outras, possuem um brilho no olhar que demonstra o quanto eles querem aquilo. O escritor em potencial não precisa ser uma celebridade nem nada do tipo, o que é preciso é ter dentro de si um algo a mais que se reconhece. Algo que vá falar com centenas de garotos em palestras, com livreiros e com leitores.

Ontem Walcyr Carrasco contava para mim e Vianco sobre como Pedro Bandeira o ensinou a se conectar emocionalmente com a plateia. Ariano Suassuna é um mestre para todos nós nisso também.

Isso não quer dizer que outros editores precisem fazer isso. Com certeza, eles têm os critérios deles. Assim como tenho os meus.

E o meu critério é procurar escritores que formem leitores.

Carreira

Da maneira como foi colocada, passou-se a impressão de que se exerce na Fantasy uma espécie de censura em relações a opiniões. Isso aconteceu porque se confundiu livro e autor.

Não há problema algum de um escritor ter sua opinião sobre uma obra. Ela pode ser positiva, negativa ou isenta, não importa. O que existe em relação aos autores é apenas uma indicação para que evitem ataques pessoais a outros autores.

Esse tipo de situação costuma virar uma bola de neve e parar em fóruns que tiram do autor foco, paciência e energia que ele deveria estar investindo no texto e no próprio trabalho. É um tempo que deveria estar aplicando em aprimoramento, pesquisa e contato com leitores. Além disso, se o escritor atrasar metas em contrato por causa disso, ele pode ser cortado.

Já se a pessoa se propõe a ser um critico literário ou um blogueiro, ela pode ter outra postura. Vai do que se quer pra si.

Não existe certo, errado ou imutável. Existe o que funciona pra cada um.

Eu sei o que funciona pra mim no mercado de literatura fantástica de hoje.

E sei que para sempre amarei Rubem Fonseca.

Comentários

10 respostas to “Raphael Draccon: “Eu amo Rubem Fonseca””

  1. Ricardo Tatsch on agosto 29th, 2013 3:34 pm

    Eu li UM livro de Ruben Foncesa, “A Grande Arte” e fiquei muito decepcionado, o livro da uma virada “out of blue” meio do nada e sem pé nem cabeça. Fiquei sem ler autores brasileiros por uns 15 anos depois disso.

  2. Bruno Leandro on agosto 29th, 2013 3:57 pm

    Ainda bem que hoje em dia temos a internet a nosso favor. Eu fico muito incomodado em ver como a grande imprensa é capaz de distorcer palavras sem sentir culpa. Por sorte, com o espaço e a dimensão que a internet nos dá hoje em dia, situações desagradáveis podem logo ser corrigidas.

  3. Mariana on agosto 29th, 2013 4:06 pm

    Raphael Draccon,li sua entrevista no G1 e fiquei com mais uma pergunta. Na sua opinião, onde fica a crítica construtiva entre os autores? Realmente estou me questionando se todos que almejam ser publicados devem deixar de dar aquele toque no texto de um colega. Gostaria de saber sua opinião.

  4. Ana Carolina Delmas on agosto 29th, 2013 5:47 pm

    Oi!

    Gostei muito de sua resposta. Realmente é preciso de contexto para que as palavras sejam apreendidas corretamente. Só não concordo com a forma como você falou sobre os novos autores. Faltou um dado simples, cínico e verdadeiro. É preciso conhecer alguém para colocar um original na mesa para ser lido. Atualmente, só esbarramos com os sites de editoras, como a Fantasy, afirmando que estão momentaneamente fechadas ao recebimento de originais. E esse momentaneamente pode durar anos. Esta cada vez mais difícil se expor para o mercado editorial sem os conhecimentos certos. Infelizmente, não ha espaço para meritocracia.

  5. Rody Cáceres on agosto 29th, 2013 8:00 pm

    Li a entrevista e entendi teu comentário. Para mim, não pareceu ofensivo, apenas sincrônico.

    Abraços!

  6. Alinde on agosto 29th, 2013 8:52 pm

    Só um detalhe sobre essa exigência de carisma. Nerds “old school”, os caras que mais alimentaram a literatura fantástica pré-internética – tanto como leitores quanto como escritores – não tem espaço na Fantasy? Tolkien, se vivo hoje, não teria espaço? Ele era chato, detalhista, e gostava de ter seu espaço privado bem delimitado. Não era nada carismático, ao contrário do seu amigo C. S. Lewis. Estou me achando meio velha rabugenta, mais ainda acho a obra infinitamente mais importante do que o carisma do autor… E compro cada manuscrito do Tolkien que o chato, rabugento e recluso do filho dele lança.

    RD – Alinde, a ideia envolve literatura fantástica brasileira e autores ainda desconhecidos.

  7. Pedro Henrique de Souza on setembro 2nd, 2013 3:54 am

    Você falo que a fantasy não publica exclusivamente pessoas um pouco conhecidas na web e etc… Mas todos os autores da fantasy já eram conhecidos na blogosfera e etc… por ex: Candela já era escritor antes, Affonso Solano já era conhecido por blogs, Carolina Munhoz também já tinha publicado livro antes e o resto é tudo internacional.
    Nenhum escritor da fantasy surgiu totalmente do anonimato.
    PS: Esperando o 4° livro da série Dragões de Éter

  8. Paulo Sérgio on setembro 5th, 2013 8:54 am

    E com toda essa polêmica “impactante”, sr. Raphael, já foi possível obter um bom retorno, correto?
    Quantos exemplares de seu livro já foram vendidos por conta do episódio? Você tem previsão de quantos leitores irá ganhar como consequência deste debate?
    Obrigado!

  9. Érica Macleo on setembro 9th, 2013 7:13 pm

    Carisma é algo que se pode ter, basta técnica…Nas apresentações faço na faculdade, vendo qualquer autor, obra e etc…às vezes, nem “achei tão maravilhoso”, mas conhecer sobre o que se fala, não ter vergonha de apresentar-se, e chamar o público para participar…pode ser tabelado como carisma…mas é técnica (minha opinião).
    Em relação a entrevista…a mídia vende o que os outros querem comprar…se os leitores querem comprar um confusão, eles darão uma confusão ao povo. Abraços a todos

  10. Edilton on novembro 10th, 2013 12:51 am

    Fala de ética, mas publica Felipe Neto. Quanta incoerência.

    RD – Ah, Edílton, então você acredita que o personagem Felipe Neto é IGUAL à pessoa Felipe Neto. Entendi, você deve ser do tipo que xinga na rua ator da Globo que faz vilão em novela, né?

    Que bonitinho…. ;)

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