Entrevista – Jornal do Comércio

Entrevista para o Jornal do Comércio, realizada durante a Feira do Livro de Porto Alegre.

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Enjoy.

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Autor fala sobre o mergulho na literatura fantástica

Bruno Felin

MARCOS NAGELSTEIN/ JC

Draccon recebeu menção honrosa da American Screenwriter Association
Draccon recebeu menção honrosa da American Screenwriter Association

Raphael Draccon é autor da trilogia fantástica Dragões de Éter, sucesso que já vendeu mais de 50 mil cópias. Com formação em cinema, recebeu menção honrosa da American Screenwriter Association (ASA) por seu primeiro roteiro de longa-metragem, o drama sobrenatural In Your Hands. Draccon fala das transformações na literatura, cinema e mercado editorial com foco em histórias fantásticas.

JC – Feira do Livro – Como você vê os seus livros e outros de literatura fantástica como forma de inserir os jovens na leitura?

Raphael Draccon – É fantástico. Recebo mensagens de leitores dizendo que o meu livro foi o primeiro lido na vida, ou o primeiro sem a professora mandar. O fato de serem obrigados a ler uma literatura densa faz com que eles se afastem do que deveriam atrair. A gente faz a proposta contrária, uma literatura que fala sobre os dramas deles. O grande diferencial por trás da fantasia é a metáfora dos sentimentos humanos. Dragões de Éter conta a história de sete jovens em sua passagem da adolescência para a vida adulta, envolvidos em uma guerra de caça às bruxas, magia. Não é por que o cara  vai enfrentar um dragão que é fantástico, mas sim a coragem que ele tem de enfrentar um dragão ou o medo, a saudade da pessoa amada, a esperança do povo. Esses sentimentos fazem a magia das obras.

Feira do Livro – Para quem está pensando em começar a escrever, o que você diria?

Draccon – O número de originais que chega numa editora pode chegar a 200 por semana. Ao mesmo tempo, o mercado nunca esteve tão aberto a novos escritores, principalmente em literatura fantástica. Mas também nunca houve tanta concorrência. Alguns têm o talento, mas não têm a vocação. É a coisa de ser forjado na dor. Como diz o Eduardo Spohr, tem que sangrar para merecer. Seguir o coração e ler bastante. É ruim dizer isso, afinal se é preciso dizer que se tem de ler muito a alguém, a pessoa não nasceu pra ser escritora.

Feira do Livro – E a possibilidade de o cinema nacional fazer adaptações da literatura fantástica?

Draccon – Hoje em dia os efeitos especiais são feitos lá fora, como em Besouro, por exemplo, em que a equipe vem aqui e faz os efeitos lá, isso não é mais problema. O obstáculo são os investidores. Vamos ter que fazer coisas independentes para provar que podemos. Existem temáticas nascendo. O Cláudio Torres, por exemplo, um diretor que é fã do Frank Miller, fez filmes como Homem do Futuro e Mulher Invisível. Mas nada é impossível, meu primeiro roteiro na faculdade de cinema, In your hands, um drama sobrenatural, recebeu menção honrosa da American Screenwriter Association (ASA) e cinco anos depois parou na mão do Will Smith. Então, nada é impossível.

Feira do Livro – E quais seriam os rumos da literatura fantástica?

Draccon – É e sempre foi a mais popular do mundo. Era uma coisa que o público sabia, mas a crítica não. Hoje ninguém pode dizer que Senhor dos Anéis é uma literatura sem poder. Há uma geração inteira que aprendeu a ler por causa de Harry Potter. Atualmente a literatura não é mais uma experiência isolada, é uma experiência a ser compartilhada. Antes a pessoa dependia de outra ter lido para comentar. Agora basta entrar na internet, onde há milhares de pessoas querendo debater. Fora que o livro para essa geração é uma plataforma. Ver um filme, jogar um game, tudo é uma coisa só. O escritor que não entender isso não está preparado pra escrever pra essa geração.

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