And The Oscar Goes To….

Assisti a dois dos filmes indicados ao Oscar de “Melhor Filme” em 2009.

O primeiro, “O Curioso Caso de Benjamin Button“, está nos cinemas brasileiros e assisti por mim mesmo; o segundo, “Quem Quer Ser Um Milionário?”, assisti a convite e só estréia oficialmente por aqui no dia 06 de março.

O primeiro é dirigido por David Fincher,  cineasta que fez meu filme preferido: “Se7en”. O segundo por Danny Boyle, que não sei por que não é um dos meus diretores preferidos, aliás, talvez seja.

Sobre ambos:

O Curioso Caso de Benjamin Button” impressiona. Prêmios técnicos como figurino e maquiagem já são dele, sem chances aos concorrentes.

Fincher sempre teve uma direção segura, e sempre tentou inovar nessa direção; o que em alguns casos funcionou, e em outros não.

Em “Se7en”, a própria estrutura de narrativa (que seria copiada exaustivamente nos anos seguinte) já era inovadora, e a direção não precisava chamar a atenção. Fez um clássico.

Em “O Clube da Luta” ele resolveu usar a computação gráfica como movimento de plano. Como a narrativa também era boa, juntou técnica+enredo e o filme funcionou (pelo menos para quem entendeu).

Em “O Quarto do Pânico” ele resolveu ensinar aos seus colegas cineastas como usar uma steady-cam. O resultado técnico é ótimo, mas com o enredo fraco, a técnica chamou mais atenção do que a narrativa e por isso o filme não funcionou.

Em “Zodíaco”, a narrativa veio para revolucionar de novo. Era uma busca por serial killer em estilo “filme noir”, que quase não saía para a ação externa, e tinha a construção dominada quase inteiramente por cenas de tensões e mistérios em escritórios fechados e tensos.

O filme “quase” funcionou.

O grande problema foi o desnecessário tamanho, que deixou cenas arrastadas demais e o público cansado, ao invés de excitado, no fim.

E, bom, em “Benjamin Button” ele repete a mesma coisa.

Tecnicamente, o filme é perfeito. Alterna cenas de computação gráfica – como gosta, com cenas de construção poética.

Como narrativa, é desnecessariamente longo e arrastado.

Existem cenas que se fossem cortadas não fariam a menor diferença para a história. Seja Benjamin Button lutando a Segunda Guerra, seja a participação que em nada acrescenta de Cate Blachett, todo novo arco construído vai muito além do tempo que necessitaria para ser desenvolvido.

A narrativa também gasta muito tempo com um Benjamin velho; e logo, quando o personagem rejuvenesce, a sensação é de que tudo fica muito corrido para – com trocadilhos – o filme correr atrás do tempo.

É um filme de David Fincher; logo merece ser assistido. Mas é o tipo de filme bom de se assistir uma vez, e no cinema.

Já “Slumdog Millionaire” é um show à parte.

Danny Boyle é, ao lado de Tim Burton, o diretor com a melhor fotografia própria do cinema americano. Nós conseguimos identificar um filme de qualquer um dos dois olhando apenas a iluminação de um fotograma.

A luz dos filmes de Burton é tão sombria quantos seus roteiros. As de Boyle são granuladas, com cores cheias de contrastes, e um deleite para quem vê.

Não consegui encontrar um só problema em “Slumdog Millionaire”.

O roteiro adaptado é perfeito. A estrutura é tão bem construída, que na primeira cena ela já grudou o espectador na cadeira. E quando o clímax vai se aproximando, inteligentemente trocando a estrutura de “ironia dramática” (onde por ser um interrogatório, já sabemos como terminará) por uma narrativa “no presente” (onde tudo pode acontecer), é papo de deixar grudado na cadeira, porque realmente tudo mesmo pode acontecer, e nós já estamos rendidos pelo personagem principal, Jamil, como se ele fosse um parente próximo.

Os atores – sejam na fase infantil, adolescente ou adulta, sejam principais ou coadjuvantes – parecem querer ensinar aos responsáveis por “Caminhos das Índias” sobre como fazer seu trabalho.

A direção é extremamente criativa. Boyle faz referências ao cinema indiano, mete uma trilha musical de energia pop, entra por becos de favelas e trens em movimentos, e nos apresenta uma Índia inteiramente oposta ao glamour de uma novela das oito; assistimos a basicamente um road movie às avessas, observando o mundo indiano através de sua parte mais suja.

E talvez exatamente por isso; por vermos o mundo daquela forma, demos mais valor à vida de Jamil e sua busca árdua e perseverante por uma história de amor (o grande tema do filme).

Ao final poético, a vontade é de aplaudir de pé.

Afinal, é um fato: um fósforo aceso na escuridão total brilhará sempre muito mais do que em uma sala iluminada.

ps: ainda não assisti ao “O Leitor”, mas o filme vai ter rebolar muito para tirar o careca dourado desse bonequinho em pé aplaudindo.

Comentários

Escreva uma resposta