Gente talentosa; uma cidade incrível e roteiros fantásticos…

 

Domingo retrasado fora dia de ministrar o Workshop “Roteiros Fantásticos”, a convite da Mostra Curta Fantástico.

Cheguei à cidade, porém, já na sexta-feira.

Três dias em São Paulo agradabilíssimos.  Um avião da TAM que provocava enjôos com suas turbulências, um excelente livro para ler na espera do aeroporto, que me lembrou o cenário do “Dragões” (As Aventuras do Caça-Feitiços – Livro 1: O Aprendiz, de Joseph Delaney), e um hotel de excelente nível (o simpático Braston).

O mais curioso foi a surpresa de dar de cara no elevador, após o café da manhã, com o magnífico mestre-ator… Paulo José!

Paulo acabou me acompanhando em uma reunião minha com o roteirista Victor Navas, de “Carandiru”, “Cazuza” e “Os Matadores”, no próprio hotel.

Andando um pouco ao redor do hotel, o dia já demonstrou que seria diferente quando encontramos uma… pasmem… cabeça de mulher ao lado de uma padaria.

Certo, não sei se era mesmo uma cabeça humana. O fato era que se tratava de um couro cabeludo saindo debaixo de um pedaço de papelão. Tudo bem; talvez fosse uma peruca. Mas… bem, talvez não.

E nenhum de nós quis levantar o tal papelão pra saber; existem certos casos em que a imaginação é a melhor opção. [não?].

Mestre Paulo se mostrou tratar-se de um verdadeiro gentleman, nos conduziu a uma galeria de arte próxima onde além de dar uma aula sobre cultura da arte, sentou-se em um velho piano e deu um show à parte. Até emocionou uma fã que chorou ao dar de cara com ele na galeria.

Ah sim, e ainda pagou o almoço!

Minha estada ainda reservou tempo para acompanhar o trabalho de diretores promissores da nova geração de cineastas do cinema fantástico.

Conversei com Robert Morgan, diretor inglês (que só aprendeu em português a falar: “obrigado” e “bunda”) também hospedado no Braston, que exibiu seu trabalho em uma das sessões, seguido de um rico debate.

Morgan cresceu em uma pequena “cidade amaldiçoada”, como bem define, na Inglaterra, e isso inspirou seu trabalho cinematográfico, pautado em excelente direção de atores (quando são personagens humanos), e trabalhos em stop-motion (quando são fantásticos).

É o típico sujeito que tem um universo próprio dentro da cabeça, para o bem e para o mal, e que coloca tudo o que acredita na obra, pois pauta suas histórias na visão que vê da vida.

Outros nomes, porém, chamam atenção, como por exemplo: Rodrigo Aragão, sujeito que fez um longa-metragem alucinante chamado “Mangue Negro”.

O longa foi rodado ao longo de três anos, no quintal da casa de Rodrigo em Guarapari, no Espírito Santo, usando os próprios moradores como atores.

O trabalho do rapaz impressiona; vai da maquiagem assustadora até animatrônicos que fariam Sam Raimi aplaudir de pé.

Pelas dificuldades de conclusão do trabalho, podemos dizer que, com o que tinha em mãos, Rodrigo não perde em nada para o primeiro “Evil Dead”.

O longa ganhou um prêmio fora, e Rodrigo tentará lançá-lo diretamente em DVD. Ficamos na torcida; é um filme que merece estar nas locadoras.

Outro talento é Dennison Ramalho. Roteirista de “Encarnação do Demônio”, Dennison é dono de um universo próprio perturbador, baseado no horror, no incômodo, e no choque que percorre as entranhas do espectador.

Seu filme “Amor só de mãe” é forte, difícil, e exige estômago dos mais fracos. As cenas são realistas e muito bem-feitas, envolvendo magia negra, corações arrancados e possessões demoníacas.

Não à toa, percorreu os melhores festivais de curtas do mundo, fez algumas senhoras passarem mal, e recebeu inclusive cartas que protestavam contra sua exibição (que Dennison emoldurou com orgulho no escritório).

Para aqueles que quiserem se testar, o curta está disponível no Porta-Curtas da Petrobrás.

Por fim, domingo foi dia do Workshop que só não foi melhor por causa da desorganização da Casa das Rosas.

Funcionários que mal faziam idéia da programação, ou que chegaram mais atrasados do que deveriam, e dois eventos marcados no mesmo horário (e estou falando de uma peça que travou a entrada do saguão que dava acesso ao segundo andar onde eu ministrava o evento), dificultaram um pouco as coisas.

Pessoas como o editor do portal Cranik, Ademir Pascale, e sua esposa vieram de longe para o evento e, pasmem, foram mandados para o Centro Cultural São Paulo por algum funcionário incompetente, que me faz ter vontade de convidá-lo para um round de Street Fighter, sem joysticks.

De resto, tirando os imprevistos, foi bem bacana.

Acredito que a maioria acabou ajudada e com uma visão ampliada tanto da estrutura de criação de roteiros, quanto dos elementos e simbolismos que cerca um roteiro fantástico.

Conheci alguns talentos, assinei (quem diria?) um exemplar do “Anno domini”, marquei uma entrevista em poadcast, e fui presentado por Vinícius Casimiro com uma cópia do melhor curta que assisti nos últimos tempos: “Romance .38″, do próprio Vinícius em parceria com Vítor Brandt.

Dúvidas interessantes, explicação de detalhes que diferenciam King, Vianco e Matheson, e até mesmo uma rápida exibição de “Corpo Fechado” para fazer com que qualquer um dos presentes jamais veja um filme de M. Night Shyamalan da mesma maneira.

E, claro, uma camisa oficial da Mostra porque afinal, depois de 6 horas de trabalho e duas turmas, eu também merecia.

Ressalto também o magnífico trabalho envolto por esforço e competência de Edu Santana e Vivi Amaral (tudo devidamente registrado pelo competente fotógrafo Eugênio Vieira, e sua câmera que só falta falar sozinha), da Fly Cow, em promover um evento desse nível na cidade de São Paulo, que a cada ano recebe um maior número de filmes e de público.

O trabalho dessa dupla é realmente fantástico (com trocadilhos).

Gente talentosa; cidade incrível; roteiros fantásticos.

O que mais um escritor pode querer?

Como diria o slogan da propaganda do café Nespresso:

“What else?”

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