Literatura Fantástica & Dragões de Éter

Um interessante relato do diário virtual do leitor Fabricio Alves, sobre a literatura nacional e sua reação a Dragões de Éter.

Link original aqui.

Enjoy.

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Draccon

Fazem duas semanas que venho lendo “Dragões de Éter – Caçadores de Bruxas” do Brasileiro Raphael Draccon. Aqui vai um apelo às editoras nacionais, “Publiquem autores nacionais, por favor!”. Não falo isso apenas para ter alguma chance neste mundo literário, mas porque a proximidade com autores Brasileiros é maravilhosa. Saber que posso encontrar o autor de meu livro predileto em qualquer esquina, que ele é real, que posso encontrá-lo numa bienal, que posso trocar e-mails com ele, perguntar sobre novas estórias, é maravilhoso. É algo que não podemos ter com autores internacionais, por mais que gostem ou não de nosso país.
Eu me sentia mal, agora estou bem. Elogiei os clássicos, mas a Literatura Fantástica Nacional está bem representada, e não sei porque é vista de maneira alheia da literatura em geral. Literatura Fantástica também pode ser Clássica e deveria estar entre todas as outras, concorrendo aos prêmios normais de literaturas “reais”.
Neste mundo perdido por libertinagens baratas e cucas vazias eis que encontrei refugio por duas maravilhosas semanas neste mundo que Raphael inventou. Fiquei maravilhado pela criatividade e pelo modo que reinventou os contos de fada, pois é sobre isso que fala, contos de fadas entremeados pela pureza e grandeza que reinos mágicos trazem consigo. Li muito rápido, e a cada página fui surpreendido pela vontade de ver a próxima e próxima página. Lá estava eu, imerso entre Reis e Príncipes, acompanhando a vida de João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, como se eles fossem reais e como se não fizessem parte de irreais estórias de nossas infâncias. Consegui ser sugado. Nada ao meu redor importava, não existiam mais pressões para perder virgindade, nem ao menos ser ou não ser encalhado. Nada, nem as fúrias dos drogados e nem as dores de cabeça do trabalho me afetavam, pelo contrário, me senti forte como seus príncipes, pronto para derrubar quantos bandidos fossem, sem deixar minha honra e inocência ser perdida.
Foi com grande euforia que ontem à tarde embarquei na leitura, reta final, faltando setenta páginas, corri, a batalha estava rolando solta no ápice do livro, muitas coisas para se resolver e personagens enfrentando seus demônios e destinos… Lá estava eu… Mas metódico como sou, e preocupado por não saber se teria ou não a continuação para ler, parei faltando vinte páginas.
Cheguei ao trabalho, muitos funcionários, teria uma pausa de meia hora e duas de uma hora. Estava preparado, há muito percebi ser quase impossível ler no trabalho por causa das regras de socialização que não deixam sermos anti-sociais, temos que dar atenção e conversar com colegas mesmo que nossa cabeça esteja pausada num livro e querendo ser sugada para continuar tais aventuras… Mas aquilo não era minha raiva do mundo, nem desgosto pela realidade, era apenas fascínio por uma obra que me dava muito mais que qualquer salário ou amor, dava magia.
Gastei a primeira pausa fazendo tudo pra não ter que fazer nada nas outras. Finalmente chegou a próxima pausa, quando ia terminar, eis que supervisores descem e temos que fazer “média” conversando com eles. Não que os odeie, mas queria ir para Nova Ether… E não dava. Depois eles se foram, fiquei sozinho, trabalhando em uma rodovia sem movimento. Resolvi ler mesmo trabalhando, tinha que finalizar vinte páginas… E elas foram voando, voando feito Príncipes guerreiros… Uma página apenas. O fluxo aumentou, até que… “Espere” falei ao motorista. E ignorando meu cliente, li a última página que restava, para me deixar cair na deliciosa contemplação de uma bela aventura vivida. Obrigado Draccon, por trazer magia e ingenuidade à este coração temperamental, por existir e mostrar as editoras que Literatura Fantástica dá certo em nosso país e somos tão férteis ou mais que qualquer outro mestre estrangeiro (sem desmerecê-los).

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